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"Engraçado ser na mesma data que no ano anterior..."

Desta vez, "roubando" uma fala da srtª Potts (a Pepper do filme Iron Man), fala de quando o milionário (e gênio) Tony Stark diz: "Mas de novo seu aniversário?"

Mas é engraçado mesmo, que mesmo sendo todos os anos na mesma data, tem pessoas que não lembram. E outras (talvez próximas) depois digam: "desculpe eu esqueci um dia mas feliz aniversário!". O mais engraçado, não essas pessoas, e sim, aquelas que passam o ano todo te ignorando, fingindo que você é um 'nada', mas que no dia da FESTA vem todo sorridente e te dá um abraço dizendo: "Feliz Aniversário!".

Não, eu simplesmente não aceito 'esses' parabéns... Sou mais chata do que muita gente acha que realmente sou. Mas algumas pessoas (algumas POUCAS pessoas) me acham legal e gostam de mim... E por essas poucas MAS RARAS pessoas eu faço de tudo, inclusive parecer legal (ou melhor, SER legal). Vivemos em um mundo tecnológico isso não é novidade para ninguém, nossa vida é quase um 'reality show'

Hoje, nesse mundo atual, onde a tecnologia impera, nosso aniversário é lembrado nas redes sociais que participamos, nos fóruns e em vários outros acessos tecnológicos. As pessoas (em geral) costumam lembrar que é seu aniversário pois tem uma "notificação" que diz 'hoje é aniversário de fulano' (nesse caso, a "fulana" sou eu).

Às vezes, vejo-me pensando em como foi meu passado. Minhas conquistas, minhas derrotas. Lembro de cada sorriso, cada motivo por qual sorri, lembro dos 'tombos' da infância e das brigas na adolescência (não que eu tenha sido a 'garota problema', mas tive algumas brigas, principalmente com o irmão mais novo, mas, quem nunca brigou com o irmão mais novo que atire a primeira pedra!)

Ok, okay... Cansei de ser apedrejada.

Mas a verdade toda... (comecei a escrever o texto, não consegui terminar e a postagem automática mandou ele para "o ar"... Literalmente perdi o ponto de raciocínio e não valia a pena tentar / continuar)...

O LAGO DOS JACARÉS

(conhecido pelo mundo por: Reserva Extrativista do LAGO DO CUNIÃ)



Apesar dos insistentes convites mensais para eu ir com ela e conhecer o Lago, nunca me apeteceu, não de verdade... E enfrentar um lago cheio de jacarés? E ficar no meio do mato por QUINZE LONGOS dias? Amizades a parte, mas... Eu não queria isso não. Mas aí, você está acostumada a ter com quem conversar, ter com quem brincar... E falar em viagem, já não parece mais TÃO ruim. Claro, eu não precisaria ficar QUINZE dias, mas se eu fosse no final de semana, poderia voltar em dois / três dias, não sabia ao certo (ainda). Mas decidi: "amanhã, vou lá no porto e ver quanto é a passagem e como faço para ir (e principalmente) voltar!"

No dia seguinte, acordei com leves dores de cabeça, mas eu pensei: “Não, essa dor é medo!” E mesmo sentindo aquelas pontadas de dores saí... E não só saí para pagar as contas como havia pensado em fazer, mas saí também e fui ao Cai n'água, minha primeira experiência em um porto.

Uma confusão tamanha, pessoas perguntando a todo canto: “Vai para Manaus? Passagem aqui.” Eu dizia: “Não, vou para o Lago do Cuniã.” Então, homens e mulheres me deixavam passar até que um disse: “Procure pelos Caçotes lá no porto.” E eu fiquei pensando: “Caxote? O que vou querer com um Caxote?”.

Bem, eu desci e andei mais um pouco e de repente eu vi o porto, ou melhor, conhecido como Cai n'água; Tinha uma ponte grande, ponte esta que balançava, pois foi feita em cima das águas, por isso, eu vim a descobrir o porquê de “Posto Flutuante”.


Uma primeira etapa vencida por mim foi o medo, sim eu fiquei com medo de andar na ponte, fiquei com tanto medo que pensei em desistir... Mas no instante em que estava desistindo um caminhão entrou na ponte e atravessou sem problema algum, pensei: “Se um caminhão vai, eu também vou”. É claro que eu fui, mas olhando o tempo todo para as colunas de ferro se nada estava errado, se não corria o risco de desabar...

E no porto tinha barcos... Muitos barcos, feios, sujos, limpos, fedidos, grandes, pequenos, brancos, azuis; gente, muita gente, correndo, andando; crianças brincando; homens descarregando (para dentro e fora dos barcos) e barulho, alto e forte e enjoativo. Perguntei a primeira pessoa que eu vi como eu faria para ir para o Lago do Cuniã, ele disse entra aqui e fala com a Rose. Tá, entrar no barco foi fácil (MENTIRA) eu fiquei protelando minha entrada, eu tinha que pular do porto para dentro do barco e mesmo sendo perto fiquei com medo de escorregar e cair dentro do rio...

Depois de um tempo que não sei quanto tempo foi eu entrei no barco e fui falar com a Rose, mas ela me deu uma informação que eu só não desisti de ir ali naquela hora porque ela disse que o outro barco menor ali do lado entrava no lago. Minha conversa com a tal Rose:

- Bom dia, que horas sai esse barco?
- Amanhã às seis horas da tarde.
- E quanto é para descer o rio?
- Até onde você vai?
- Quero ir até o Lago do Cuniã.
- Até lá é R$ 30,00, mas eu não entro no Lago.
- E como eu teria que fazer se pegasse esse barco, iria nadando pelo Lago?
- Se você nadar no Lago você morre na hora como comida de jacarés.
- Tem jacaré? Então como eu faço para chegar lá?
- Este barco te deixa na entrada do Lago de lá você tem que pegar uma voadeira (eu com cara de?) e ir.
- Tá tudo bem, acho que não vou não.
- Fala ali com o Vilson... Aquele de camiseta azul, ele entra no Lago.
- Ok, muito obrigada.

- Então a moça disse que vocês entram no Lago do Cuniã, quanto é a passagem até lá?
- R$ 30,00.
- E que horas você saí daqui?
- Onze horas da manhã.
- Hoje?
- Não amanhã.
- Humn, mas você entra no lago e passa pelos jacarés e me deixa em um local onde os jacarés não vão subir?
- É a sua primeira vez? (DETALHE: Ele estava rindo E DE MIM.).
- Sim.
- Então a gente não entra no Lago, mas eu te deixo no flutuante, é uma casinha onde tem uns guardas que moram lá no Lago, nós vamos passar no Lago as cinco e você espera pelo pessoal que sai as seis, aí eles te dão carona e te levam até o Lago.
- Mas e se eles não derem carona, como eu faço para chegar?
- Eles dão sim, são todos gente boa e outra eles estarão indo mesmo para o Lago que é a casa deles, então não custa nada para eles.

Ele deu tanta certeza que acabei negociando com ele, preço da ida e volta e outras informações. Combinei que no dia seguinte antes das onze eu estaria ali.


NO DIA SEGUINTE:
Entrei no barco, procurei por uma cadeira e me acomodei (eu e minhas duas mochilas estupendamente cheias), pensava o tempo todo qual seria a reação dela (que afinal, toda essa minha correria de entrar em um barco e descer o Rio era para vê-la), algumas horas eu ficava encantada com a ideia, outras vezes com medo da reação.

E a viagem foi transcorrendo tranquilamente, conversei com alguns passageiros, com o comandante, tinha um americano no barco que falava português que eu conversei; com um senhor bem educado que depois de um tempo deitou na rede e dormiu a viagem inteira, a propósito a rede... Não sabia que eu teria que levar rede e o rapaz não me falou nada, o fato é: "Sem rede na viagem, sem descanso". Minha sorte foi que consegui uma cadeira de plástico que me serviu otimamente bem.

E no meio da conversa com o senhor americano, um rapaz veio até mim e disse:
- É você que vai descer no Cuniã?
- Sim.
- Então vem que já estamos chegando.

Despedi-me das pessoas que eu estava conversando e fui (vencer mais um obstáculo do medo), eu tinha que passar do barco para a voadeira em movimento. Mas felizmente, o fiz muito bem feito. Então veio a casinha flutuante. Lá, conheci a Neide, segurança na parte da manhã da casinha flutuante, então eu contei toda a história para ela e no final ela perguntou:

- Mas ele falou mesmo que teria pessoas indo para o Lago? É muito longe daqui até o lago e não tem ninguém assim que vai para lá todos os dias que sai daqui.
- Ele falou que tinha pessoas do Lago que trabalhavam para cá e às seis horas essas pessoas iam para casa de Rabeta e então eu poderia pegar carona com um deles e chegar até o Lago.
- Ih moça, ele te enganou, não tem ninguém e agora estão todos no Lago esse horário.
- E agora, o que você sugere que eu faça então? Preciso chegar ainda hoje no Lago.
- Bom espera aí e vai tentando com quem passar se eles te levam até lá, mas por trinta reais eu acho meio difícil. A menos que você ligue para sua amiga e converse com ela para ela mandar alguém aqui te buscar.
- E onde tem telefone?
- O mais perto daqui fica na próxima comunidade, Nazaré.
- Mas como eu chego lá?
- Você pode ir cortando pelo meio do mato, meia hora de caminhada, mas se você não conhece não é bom, você vai se perder no mato.
- Desisto do telefone (e qual era minha outra alternativa? No momento, não tinha!).

E lá fiquei eu, esperando e esperando... Claro, para minha maior alegria não passou nenhum viajante sobre as águas em uma canoa com motor que quisesse me levar lá, pois todos diziam que é muito longe. E no perder das esperanças ela:

- Amanhã tem um grande festejo lá e terá barcos grandes, várias voadeiras e rabetinhas entrando no Lago aí você pega carona com qualquer um deles e chega até o lago, por hoje você vai comigo para minha casa e volta comigo às cinco da manhã quando venho trabalhar.
- Tudo bem.

Meia hora depois eu já desesperada que não ia mesmo chegar lá naquele mesmo dia e que teria que ir dormir na casa de uma pessoa que eu nunca tinha visto, mas ela estava sendo generosa comigo, pois poderia me deixar passar a noite na casinha flutuante e dormir sentada. Então veio um monte de crianças em uma Rabeta dirigindo (pilotando) sozinhos e ela falou para eu falar com eles se eles me levavam ao Lago, mas então ela viu que o rapaz mais velho não estava e os meninos ficaram de trazer este tal rapaz.

O primo dela chegou para ficar de segurança no turno da noite e ela começou a se arrumar para ir e o tal rapaz chegou com os meninos de novo.

- Você que quer ir até o Lago do Cuniã?
- Sim, eu mesma.
- Lá é bem longe viu.
- Quanto você cobra para me levar até lá?
- Lá dá em torno de uns oitenta reais, são nove litros de gasolina e a gasolina está três reais o litro.
- Então, só que eu só tenho trinta reais. O dono do barco mentiu para mim e eu acabei nem trazendo tanto dinheiro e agora só me restam esses trinta reais.
- Por trinta reais não dá não senhora.
- Então me desculpe, mas é só esse dinheiro que eu tenho.

Ele virou as costas e foi embora e com ele foi minha última esperança de ir até o lago. A Neide me chamou para ir pra casa dela, eu fui. Chegando lá o Padre já estava preparado para celebrar a missa na comunidade e ela me perguntou:

- Você vai rezar com a gente ou quer ficar aqui?
- Não, eu vou com vocês.
- Vou só trocar o uniforme. - ela disse.

E um dos menininhos que estavam com o rapaz que não quis me levar veio até ali e gritou:
- Ele vai levar a senhora lá, espera a gente lá embaixo.
- Então é sua sorte, você vai chegar ainda hoje.

Despedi-me dela e fui em direção onde o menino disse para eu esperar. Novamente a esperança voltou, eu iria chegar ao mesmo dia. Mesmo ele tendo falado longe eu ainda tinha na cabeça a fala do mentiroso dono do barco que disse que era uma hora de rabetinha e eu chegava ao Lago, então eu achava que o longe fosse isso, uma hora. Enganei-me e muito.

Eu já tinha entrado no Igarapé do Lago do Cuniã e em uma hora e meia, ainda não tinha visto nenhum jacaré, já estava começando a desacreditar nessa história de lago dos jacarés também.

Depois que encontrei com o menino reparei que na canoa eram os dois gurizinhos que estavam sozinhos, sem o primo deles o adulto. E pensei: “será que eles que vão me levar lá e sozinhos?”. Mas eles pararam na casa deles que ficava uns cinco minutos indo pelo rio depois da casinha flutuante. E começou a entrar gente, uma mulher, duas crianças com menos de cinco anos, uma menina com uns sete / oito anos os dois meninos que já estavam na canoa e o rapaz primo dele.

A primeira a descer foi à menina de sete / oito anos, ela desceu em um casa uns vinte minutos pelo Lago abaixo. Na verdade, a meus olhos ela desceu no meio do mato, mas eles afirmaram que ela morava ali, que ela só iria subir e atravessar um pouco a mata e já chegaria a casa. Bom, com certeza a menina também sabia disso que era ali mesmo o local no Lago mais perto da casa dela, eu fiquei receosa com isso. Mas a viagem continuou.

Já tinha algumas horas que eu não comia nada e o estômago começou a reclamar. Sentia fome, mas o que eu pegaria para comer se tudo o que eu estava levando tinha que ser feito (arroz, feijão, carne...), lembrei que tinha um saco de uvas. Peguei o saco e claro que eu não comeria sozinha, dei uvas para as duas crianças e para a moça (mãe das meninas) e entreguei o saco de uvas para os meninos e todos se fartaram de tanta uva. E ele falou:

- É muito longe mesmo, eu só estou levando a senhora para não ficar com fama ruim no igarapé, mas a senhora vai ver como é longe.

Lembrei então do pacote de bolacha recheada que tinha na bolsa, peguei um e os meninos NNUNCA tinham comido aquilo. O mais velho disse que já tinha visto, mas o menino mais novo e as duas criancinhas nunca nem viram. Fiquei assim "como não conhecem?", dividi o pacote com eles e antes de sair da (tal da) Rabeta, deixei os outros dois pacotes lá. Lembro da menininha separando os dois lados da bolacha e falando sorrindo com o dedinho no recheio e segurando as duas partes da bolacha com  a outra mão:
- Ola (acho que ela quis dizer 'olha') mãe é cololido!

Eu não falava nada, só ouvia. E a moça começou a puxar assunto comigo. Seu nome, Isabel, a menina mais nova Maria e a outra Eduarda. Ela era esposa do rapaz e os dois meninos eram primos dele e moravam todos juntos. Ela estava indo porque ela nunca tinha ido ao Lago do Cuniã e disseram que era muito lindo e ela queria conhecer, mas ela não iria ficar no Lago como eu pensei antes.

- Mas e os jacarés? Tem muitos mesmo?
- Sim tem muitos.
- Mas não pode mata-los se são tantos assim?
- Antigamente não podia não, mas eles eram tantos que começaram a atacar as crianças e várias crianças
morrendo aí o IBAMA permitiu matar os jacarés, mas tem uma época do ano que eles podem ser mortos e lá no Lago eles vendem a carne e o couro de Jacaré através de uma cooperativa que foi montada lá.
- Interessante, então a morte dos jacarés só foi possível porque eles estavam atacando crianças e hoje eles morrem para ser vendido carne e couro?
- É assim mesmo.

A conversa com a moça durou aí nossa longa jornada, com exceção dos minutos em que ela tentou fazer a bebê dormir... Ela ficou enjoadinha e chorou muito até conseguir pegar no sono. As uvas tinham acabado; a água estava quase à zero, eu estava começando a sentir frio e fome, estava começando a sentir o cansaço da longa jornada até ali, mas me recusa de olhar no relógio. A última vez que eu tinha olhado foi às 18h15min quando entrei na rabeta com os dois meninos antes deles pararem próxima a casa deles. E o rapaz, a moça e as crianças entrarem na lancha.

Eu sabia que muito tempo havia passado então o rapaz (que tento de todas as formas lembrar o nome e não
consigo) falou:

- É muito longe, eu falei para a senhora... A gente vai chegar lá no Lago por volta de Onze horas.
Eu pensei: “O quê? Onze horas da noite? E eu vou assim esse tempo todo? Quero voltar para minha casa!”.

- Onze horas?
- É... Eu to falando que é longe.
- A propósito, me chame de Alyne, por favor.

E o assunto encerrou. A curiosidade não me conteve e eu peguei o celular... E no display marcava – 19:45 – Em pensar que nós estávamos a uma hora e quinze minutos na rabeta eu já estava cansada e ainda teria pela frente mais três horas e quinze minutos aproximadamente.

E começaram os tais “furos” na mata. O rapaz que estava com uma lanterna que tinha um foco bem fraco foi o caminho todo em pé, ele era o “guia”, e ficava apontando com o faixo de luz da lanterna a direção que o Matheus (menino que estava pilotando a rabeta) deveria seguir e virar. O outro menino que eu também não lembro o nome, às vezes ia lá pra frente da rabeta para ver se tinha mesmo o furo, para tirar com o remo algum galho ou para remar para voltar pra trás com a canoa quando entrávamos em um “furo” que não existia. (O “furo” na mata são uns espaços que as pessoas cortam as árvores deixando uma pequena brecha para pequenas rabetinhas passarem e assim cortar o caminho).

Após o segundo “furo” o rapaz falou:

- Tá vendo lá na frente? É jacaré...

Eu olhei (curiosa, claro) e vi... Os olhos amarelos pareciam tochas de fogo amarelas, grandes e com um risco preto bem no meio (que só dava para ser visto dos olhos mais próximos a rabeta)... Estavam longe e perto e então eu descobri o porquê todos falavam que era o Lago dos Jacarés... Toda vez que nós passávamos perto de um jacaré (entenda perto como: “O jacaré próximo à margem e a Rabeta no meio do Lago”), o rapaz mirava a lanterna no olho do bicho e fazia um barulho bem alto, um som parecido com PÁ! (acho que este som que ele fazia era o semelhante a uma arma de fogo, pois o jacaré; não sei se pela luz ou pelo barulho, afundava). E depois do primeiro par de olhos amarelos e brilhantes sob a água, vi muitos e muito mais que não tem nem como contar quantos...

A melhor parte de toda essa longa viagem foram as belezas que iam surgindo conforme a rabeta avançava... Vimos o por do sol, vi a escuridão deixar o Lago preto, vi as aves voando, provavelmente para seus ninhos. Foi realmente LINDO!



E assim continuou a viagem, ao som de PÁ!, a cada cinco minutos...

Depois que olhei a primeira vez o relógio, olhando de tempo em tempo. E a cada vez que eu olhava fazia as contas: “Faz oito horas que eu comi, preciso de comida de sal... Mas ainda tem muito tempo para chegar!”.

A Isabel perguntou:

- Você quer castanha?
- Castanha? Eu quero sim... Mas está quebrada?
- Não.
- Mas como quebrar aqui?
- Eu quebro no dente, você quer?
- Tá, eu quero sim...

E foi castanha até chegar ao Lago do Cuniã e ela QUEBROU mesmo as castanhas com o dente...

E de repente (MENTIRA, não foi de repente porque eu olhava o celular a cada cinco minutos) eram dez horas e trinta minutos. E ele disse que aquela luz era (e falou o nome da comunidade) era a última comunidade antes do Lago e que dali até o Lago era uma hora...

Eu pensei: “Mas espera aí, o horário de chegada não era às onze horas? E ele ainda está dizendo que depois da luz tem uma hora ainda de viagem... Não chego lá hoje... Quero voltar para casa!”.

Eu já tinha até parado de olhar os olhos dos jacarés, de repente um bicho que assustou até o rapaz... Ele estava no meio do Lago e não próximo à margem como os outros... E também, não estava virado em nossa direção, estava de costas... Levando em consideração a escuridão total que estava, nós não vimos o bicho... E quando a Rabeta chegou bem perto, o bicho virou com tudo... Foi tudo tão rápido que aconteceu, em uma hora estávamos navegando numa boa, na outra hora o rapaz estava gritando:

- Todo mundo pro lado de lá!

Foi por um triz que aquela rabetinha não virou conosco... E se virasse, com certeza, eu não estaria aqui para contar a história, pois como todos disseram: “Tem muitos jacarés se você cair na água eles comem você!” E eu não queria pagar para ver se é mesmo verdade.

Depois desse incidente a viagem transcorreu bem, sem mais nada... Tudo voltou ao normal... E eu, voltei a olhar para o Lago ver os olhos dos bichos, para não ser surpreendida por outro tão perto assim da rabeta...


ONZE HORAS E TRINTA MINUTOS:
- Chegamos! Onde que é dona?
- Eu só sei que é perto da escola moço.
- Mas eu não sei onde é a escola não.
- Eu também não... Nunca vim aqui. Você não pode parar em qualquer lugar e desço e procuro pela escola?

O Matheus entrou na conversa: - É lá embaixo o porto da escola, fica lá naquela escada que o tio mostrou para gente lá no fundão.

- Mas a escada é lá no final... Você tem certeza Matheus?
- Tenho sim. O tio trouxe a gente aqui outro dia e mostrou a escada.


MAIS DEZ MINUTOS NO LAGO ATÉ CHEGAR À ESCADA:
- Então é aqui.
- Muito obrigada!

Depois que eu paguei para ele o valor combinado de trinta reais, eu pensei: “é, se eu tivesse mais dinheiro até que eu pagaria, porque é realmente MUITO longe, mas infelizmente não tenho.”.

A Isabel falou:

- Quando você for embora, passa lá em casa para pegar castanha... É a última casa antes de sair do Lago.
- Ok! Se der eu passo sim. Tchau para vocês e bom retorno.
- Tchau!

Eu desci da Rabeta e quase que pisei na água... Tive que dar um pulo maior que pulo de gato... A escada tinha bem uns 40 degraus... Parecia uma eternidade de escada... Estava escuro, eu estava sozinha e com medo (sim, o medo bateu).

O guarda provavelmente deve ter visto que uma rabeta parou ali, pois assim que terminei de subir a escada, que cheguei lá em cima, tinha um guarda parado bem próximo dali olhando para mim.

- Boa noite. Eu estou procurando a professora de história.
- Aquela professora baixinha?
- Sim, ela mesma.
- Vem cá.

Ele foi em direção a uma casa (ou seria a escola?), e falou:

- Ela está aqui na escola, você veio para o festejo?
- Não... Si... Acho que sim (eu não sabia de festejo nenhum até chegar no flutuante, mas melhor ele achar que eu tinha vindo para o festejo sim).
- Amanhã vai ter festa aqui na comunidade.

Chegamos a uma das portas, ele bateu tão forte na porta que eu achei que a porta fosse cair... Alguém atendeu:

- Tem uma menina querendo falar com a professora.

Pareceu uma eternidade até finalmente ela aparecer, nesses segundos (que acho que na verdade, foram minutos, olhei no relógio e eram 23 horas e 50 minutos).

A Bia saiu da sala, mas o segurança ainda estava bloqueando o meu campo de visão (e o dela). Apesar de tudo, depois de vários convites e tudo mais, eu tinha CERTEZA de que ela não imaginaria eu aparecendo lá de repente, mas depois, chegando lá, a viagem não pareceu mais TÃO estranha.

- Como?
- Não era bem assim que eu esperava a recepção.
- Sim, mas eu estou feliz. Mas como você está aqui? Como você chegou aqui?
- Eu preciso de um banho e banheiro, depois eu conto tudo.

Depois de banho tomado e barriga cheia, fomos deitar, conversando e cochichando para não acordar o outro professor que eu não quis conhecer até o momento.

A manhã chegou tão rápida que parece que mal eu deitei e já tinha amanhecido. Levantamos e fomos até a cozinha e então, ela me apresentou ao outro professor. Ricardo, até que é legal... Mas é MUITO estranho!

Três dias depois e eu já tinha enjoado de tudo aquilo, as aulas retornaram na Segunda e eu não tinha nada para fazer... Passava a manhã conversando com ela ou o Ricardo e a tarde, ficava trancada no quarto. Diversas vezes os alunos que não estavam em aulas ficavam espionando na janela... Era chato e meio constrangedor, mas eu não falava nada.

Eu tinha perdido o barco e o próximo só voltaria para a cidade na quinta-feira, ou seja, eu teria que ficar até quinta, sem choro nem vela... Que eu ODEIO (não gosto mesmo) de formatar computadores isso é fato e todos que me conhecem sabem, mas três dias lá e eu já estava me sentindo entediada! A viagem em si, acho que foi MUITO mais divertida e mais EMOCIONANTE do que ficar lá. Conversando com a diretora da escola, ela perguntou o que eu fazia, não me lembro de ter falado que eu formatava PC's,mas sabe né, se você fala eu trabalho com programação / com redes (ou QUALQUER coisa que seja na área de informática, TODOS sem exceção, já falam: 'formata meu pc?').

Na Terça eu arrumei uma ocupação para minhas tardes, fui formatar o computador da diretora (ainda Win XP), ela reclamou que o computador, você clicava para abrir a internet e ele demorava meia hora para abrir as páginas... Resumindo, fiz o melhor que pude com os recursos disponíveis ali e consegui deixar o pc 'novo' de novo.

Ela gostou tanto do que tinha feito no PC dela que perguntou se eu não arrumava da sala da secretária e da coordenadora tbm... Eu fui né, e de repente, tinham NADA menos do que uma sala com 7 computadores parados, claro que não formatei todos eles, mas fiz uma varredura de vírus, limpei, organizei algumas coisas, deletei outras tantas e os pcs, ficaram menos mais usuais.

Nos dias seguintes o ócio foi meu companheiro. Eu já tinha conhecido o Lago, já tinha visto os jacarés (de noite e de dia), já tinha andado na comunidade, tinha feito uma boa ação com os computadores da diretora... Agora eu queria ir embora. Aquilo tudo já estava me cansando. Sem falar a falta de tecnologia sem internet (só tinha internet na sala / mesa da diretora), sem telefone, sem celular, sem TV (e olha que nem gosto muito de TV), sou muito urbana e estava sentindo falta da modernidade. Muito mato, muita água em um lugar só... Mas o principal, MUITO jacaré, não podia chegar muito perto do lago que tinha jacarés a vista o tempo todo!!


E CHEGOU SÁBADO:
Ela já havia desistido que o Pedro (piloto da voadeira viesse no sábado), quando de repente, um rapaz entra no quarto e diz que é da polícia (era o outro professor, o que ficaria ali os próximos 15 dias). Tudo muito rápido; tomei um banho, arrumei as roupas na mochila, pegamos as coisas e fomos para a voadeira.

A viagem na voadeira é bem mais rápida que na rabeta (por isso o nome) parece que a lancha voa pelas águas... É uma sensação incrível, impossível até de descrever aqui, sei que foi delicioso. O vento batendo no rosto, a água fazendo ondas... Foi maravilhoso!

Tinha outro professor que ia ficar em outra comunidade. Nós saímos de Lago do Cuniã, iríamos para Demarcação deixar o professor que estava conosco e pegar os outros dois que estavam lá, de lá iríamos para o núcleo de Calama onde passaríamos a noite e pela manhã subiríamos o rio até Porto Velho.

A viagem foi longa, não teve como não pensar “quanto tempo será que levaria essa viagem toda de rabeta? Não quero nem pensar!”. Ao chegarmos em Demarcação eu desci um pouco... Ir ao banheiro, esticar as pernas... Mas não demoramos muito, pois tínhamos que ir até o núcleo de Calama e já estava anoitecendo.

Como não marquei a hora exata que saímos do Lago, não sei quanto tempo levamos ao todo no caminho. Só sei que chegamos ao distrito de Calama às 17 horas e 55 minutos. Depois de verificarmos onde iríamos ficar e tudo mais... E de arrumar onde iríamos dormir, depois do banho... Fomos comer e ver uns filmes...

Foi uma noite agradável, ar condicionado, fresquinho... Tudo muito bom. De manhã, fomos as primeiras a levantar... Tomamos banho, fizemos café da manhã e não demorou muito os rapazes levantaram. E às sete horas e trinta minutos entramos todos na voadeira (Agora éramos: Eu, a Bia, mais três professores e o piloto).

- Ops, cadê o Ricardo? – eu perguntei para Bia, mas ela perguntou para os outros dois professores.

- Ele disse que está cansado e não aguenta ir de voadeira... 
- Ele é louco? O barco vai sair daqui só onze horas. Eu sei que o barco passa no Lago do Cuniã às quatro horas da tarde, o piloto que falou porque eu ia voltar de barco. – eu falei.
- Ele vai chegar a Porto Velho por volta de dez da noite.
- Que nada, ele vai chegar uma da madrugada. – disse o piloto.

Passaram-se algumas horas e ele parou em São Carlos. Descemos todos e comemos mexido de ovos... Os professores comeram também Açaí. Depois dessa parada a próxima seria: Porto Velho.


MAIS ALGUMAS HORAS DEPOIS:
Chegamos... Tivemos que descer em um barranco, não tinha nem uma escada como nas comunidades ribeirinhas... Enfiei o pé na lama (literalmente) depois, pegamos carona com um dos professores e ele fez a gentileza de nos deixar na porta de casa.

E assim; termina minha grande, divertida, por vezes ociosa, cansativa e misteriosa viagem ao Lago dos Jacarés.


=D


Sobre as descobertas de um passeio de barco, no Lago dos Jacarés.
Rondônia, PR.